Em frente da Televisão
Então sentado agora abeira de um abismo, observo e respiro profundamente para não me deixar intoxicar pela vontade de descobrir, desvendar o impossível. O sol tem brilhado de maneira diferente nos últimos dias, as nuvens sempre vem o encobrir no fim da tarde. As mesmas nuvens trazem uma sensação de saciedade e constipação, não há mais o que sair desse bagaço de cana que já passou muitas vezes pelo moinho. Um cigarro por acalento e o barulho da televisão sendo encoberto lentamente pela voz de Tracy Chapman “baby can hold you”, uma nova brisa então sopra e olho para o lado de fora de meu apartamento, a janela está empoeirada pela poluição da cidade grande. A luta continua lentamente todos os dias, se repetindo com o passar das horas, uma leve embriaguês toma conta do corpo, então fecho a janela.
Tento bloquear a energia translúcida vinda da temperatura que a cada dia se torna mais instável. Todas as informações recebidas, voluntária ou involuntariamente perturbam a vontade da descoberta, tudo parece vir pronto, ainda que com muita luta. As lembranças de tempos de outrora reanimam meu corpo, mas não minha mente e continuo então minha peregrinação pelo corredor do apartamento, Já não mais reconheço os paços dos quais necessito para me mover de um lugar a outro, sigo então apenas pensando. Como então evitar um colapso? As reclamações, escuto quase que diariamente, a intransigência persiste nas mais estreitas vielas do comportamento humano, o individualismo aflora a cada dia com mais força. Tudo isso enquanto outros tentam reanimar esse paciente terminal, a terra. Os nomes surgem entremeando interesses globais, momentos são constantemente petrificados e perdem seu valor de barganha, outros denunciam ocorrências comprometedoras que se proliferam com mais freqüência. Enquanto novamente uma leve brisa adentra minha sala e me tranqüiliza dizendo com seus assobios, que a calma é o segredo do negócio, por isso digo a todos: A vastidão das interações é o caminho para a construção de muitas imperfeições, mas não deixe que isso o torne vulnerável, só você pode controlar aquilo que lhe foi enviado como presente.
Cadu Maia.
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